Georgia Nicolau, diretora do Instituto Procomum, fala ao projeto ID21. O Instituto inventa, ativa e participa de redes cujo foco é promover acordos de convivência e modelos de colaboração para a transformação social, contribuindo de forma criativa e inovadora para a construção de um mundo comum entre diferentes.
Meu nome é Georgia Nicolau e aqui está o vídeo para o projeto ID 21. Eu sou diretora do Instituto Procomum.
Em relação a inclusão de tecnologias nas comunidades em que eu atuo? O que ainda não foi resolvido?
Acho que a resposta padrão de todo mundo é a falta de acesso a internet que é uma questão para muitas das pessoas com quem eu trabalho no Instituto Procomum. A maior parte das pessoas acessam a internet pelo celular, normalmente num plano pré- pago. E isso leva a uma questão que vai muito além da exclusão digital, principalmente hoje em dia com pandemia e etc. que faz com que você seja excluída socialmente de várias questões, inclusive o acesso a alguns dos serviços básicos. A gente viu isso com a questão auxílio (emergencial) que as pessoas tinham que baixar um APP e foi super complexos para muitas pessoas fazerem essas transações todas. E aí tem uma relação que realmente me parece que é de compreender como usar as tecnologias a seu favor, de aproximação e potencial criativo. E de algo com que eu possa me relacionar de uma maneira mais próxima do meu universo.
As demandas atuais...
Eu não sei se teve tantas mudanças assim, mas eu acho que tem uma demanda por parte de muitas das pessoas com quem a gente se relaciona hoje que é de entender objetivamente como funciona e para poder usar principalmente a internet e as redes sociais a seu favor. Então, “como funcionam os algoritmos do instagram?’ ‘Como eu faço pra vender meu negócio?’ A gente dá muito suporte para empreendedores sociais periféricos, então, ‘como eu posso falar com mais gente?’ ‘Para que que serve?’ ‘Como eu uso?’ ‘Como é que eu uso isso para amplificar as minhas causas?’
Então eu sinto que talvez a conversa tenha se reduzido à questão das redes sociais e também tenha sido uma grande solução para a aproximação das pessoas de fazerem colaboração, construir coisas juntos, formação de rede e etc.
O tema inclusão digital...
Eu acho que sim, ainda reflete no sentido de que, com eu disse no começo, ainda tem gente que não tem acesso a algumas tecnologias e o próprio acesso a internet . A gente quando podia ter o espaço aberto no LAB tínhamos várias oficinas e um grupos de trabalho e um HACKERSPACE. Ficou muito claro que quando as pessoas entendem o que isso pode significar, a gente tem a história de uma empreendedora social que fazia empadinhas e então ela descobriu que dava pra fazer a forma da empadinha usando uma impressora 3D, então tem uma questão que não é sobre inclusão a palavra, mas de compreensão do que significa o digital. Vira e mexe a gente conta a história do começo da internet. A gente fez uma conversa sobre isso, uma live, ano passado (2020) sobre cultura digital e é muito interessante porque se você pega uma faixa etária que agora já está com 20 anos e desde pequena de alguma maneira se relacionou com aquilo e contar como era a vida antes e o que isso trouxe. Então eu sinto que existe uma demanda de uma educação crítica mesmo e quando isso acontece abre muitas chaves. Desde de “Eu prefiro usar software livre e vou poder ficar independente” ou “Putz! software livre não serve”. Enfim essa possibilidade de escolha e poder dialogar com isso. Eu acho que os projetos de inclusão digital, assim, eu hoje vejo que no (Instituto) Procomum eu não acho que a gente faz inclusão digital, eu acho que a gente se utiliza de conhecimentos e tecnologias para promover acesso à repertório, acesso a redes, construção de comunidade e transformação social. Ali a gente tem um espaço de permacultura, residência artística e um HACKERSPACE. Acho que tudo isso é importante e acho que entender tudo isso como uma apropriação crítica. Eu olho para isso numa perspectiva de ampliação de mundos.
E claro tem uma questão essencial que é o GAP que vai se formando cada vez mais. O que as empresas estão falando em aceitar BITCOI,NS vender NT, internet 5G e etc. Tem gente que não tem 3G. A coisa vai num exponencial que há alguns anos atrás se falava em como você pula 50 anos, o tal do LIP FROG. Eu acho que a gente tem que pensar que LIP FROG é esse?, que pulo do sapo a gente vai ter que dar para entender que o mundo virtual, digital é uma parte essencial e o que as tecnologias fizeram vão muito além do acesso a internet. É Futuro do trabalho, futuro do dinheiro, futuro da indústria, todas essas discussões. E por outro lado o que significa ser um corpo periférico na periferia do mundo. E promover soluções. E qual o papel que a tecnologia pode desenvolver nisso de uma maneira libertária e de promoção de autonomia. Eu mesma me pergunto muito e acho até que eu fui ficando muito desanimada talvez pela potencialidade que eu vejo e pelo quanto que o dinheiro acaba impondo tantas limitações. Mas a gente segue. Eu acho que tem uma parte essencial que é promover diálogos, promover encontros, promover acesso.
Espero ter ajudado, um abraço.