Nelson Pretto, professor de Educação na Universidade Federal da Bahia (FACED/UFBA), traz ao projeto ID21 seu olhar sobre a inclusão digital (comunitária) no Brasil - ou, como ele diz, a “desigualdade digital".
Nelson Pretto
Professor de educação da faculdade federal da Bahia
As questões centrais sobre o que é chamado de inclusão digital no Brasil, que prefiro denominar de desigualdade digital tem a ver com duas grandes dimensões
A facilidade com que cada cidadão e cada cidadã possuam seus aparelhos que os possibilitem as conexões e as conexões propriamente. Precisamos compreender que hoje o conceito de banda larga não está associado a algum número, mas banda larga hoje é a capacidade de cada um realizar aquilo que ele deseja com conforto. Obviamente que num primeiro momento do uso da Internet eu me contentava com um uso para mandar e receber um email uma vez por dia. Hoje o tempo inteiro queremos subir e-mails, vídeos, estarmos numa outra perspectiva que não é mais aquela troca assíncrona de um passado não tão distante.
Mais do que tudo o que precisamos quando pensamos nessa perspectiva de superar as desigualdades digitais é compreender que cada cidadão e cada cidadã precisa ter a capacidade de escrever o contemporâneo com essas tecnologias. Como sempre dissemos nos nossos projetos e nas nossas tentativas de influenciar políticas públicas, no campo da educação por exemplo, nós não queremos a internet nas escolas, mas nós queremos as escolas na internet. Esse pequeno jogo de palavras é fundamental para que se compreenda de que diferente de que trazer a internet e todas essas tecnologias para serem mais uma tecnologia de consumo de informações, o que queremos é que a Internet e todas essas tecnologias possibilitem que cada cidadão e cada cidadã seja produtor de Cultura e de conhecimentos e com isso ao produzir cultura e conhecimento empenhem essa rede internet com conteúdos os mais diversificados possíveis essa será a internet que nós queremos e não uma internet que se assemelhe ao velho sistema broadcasting dos meios de comunicação de massa. Acho que do ponto de vista do contemporâneo quase tudo ainda precisa ser resolvido. Ainda temos aparelhos que só funcionam centrados em lógicas proprietárias que se utilizam de forma lamentável de todos os nossos dados. Temos infra estruturas tecnológicas de rede de comunicação muito deficitárias e mais do que tudo, desiguais. Aqueles que possuem recursos financeiros possuem grandes e boas conectividades. Aqueles que não possuem vivem uma conexão lamentável que só lhe permite no máximo receber informações. Essa não é a internet que nós queremos. Precisamos salvar a internet dessas grandes plataformas que estão presentes de forma dominantes no mundo contemporâneo e que impedem as nossas navegações livres como precisa ser a internet do passado e que sempre defendemos.