Rodrigo Savazoni, diretor executivo do Instituto Procomum, fala ao projeto ID21. O Procomum inventa, ativa e participa de redes cujo foco é promover acordos de convivência e modelos de colaboração para a transformação social, contribuindo de forma criativa e inovadora para a construção de um mundo comum entre diferentes.
Olá tudo bem? Meu nome é Rodrigo Savazoni atualmente eu sou diretor executivo do Instituto Procomum que é uma organização da sociedade civil com sede em Santos e São Paulo que trabalha né que tem a missão de defender os bens comuns e também sou pesquisador do Lab Livre e doutorando em ciências humanas e sociais pela Universidade Federal do ABC.
Quando vocês me propuseram né a busca por uma reflexão aí, iniciar uma reflexão com a temática da inclusão digital, obviamente que minha cabeça vôou lá pros idos dos anos 2000 quando primeiro telecentros começaram a ser construída na prefeitura da Marta Suplicy e depois todo o período que foi né a construção de políticas públicas de inclusão digital utilizando software livre no início do governo Lula. Me lembro de estar na casa do Sérgio Amadeu da Silveira quando a Karina chegou pra gente para conversar logo em 2003 para
discutir, por exemplo, a estruturação de uma rede telecentros na Amazônia, chamaria Tapaka Pauá, a rede da floresta. Enfim vários voos e sobrevoos né sobre esse sonho que nutrimos de construir né uma uma internet democrática né que realmente influísse todo mundo dentro do ciber espaço e trouxesse as pessoas para dentro dessa potencial grande ágora né de conversação, de trocas e potencialmente nos fizesse viver melhor.
Parece um pouco ingênua até, eu tô me ouvindo falar que a gente pudesse até imaginar que isso viria a ocorrer. Não resta dúvida que nós vivenciamos um ciclo fabuloso de inclusões várias e que isso também transformou muito a forma como a circulação, como a informação e a comunicação circulam também o conhecimento.
Eu não sou detrator de nós mesmos assim daquilo que foi a nossa escolha naquele momento, mas é preciso refletir né um pouco em perspectiva histórica. E quando o convite chegou ele me fez obviamente olhar para isso né, olhar com carinho assim para
toda essa questão e pensar que de alguma maneira nós, e eu fiz parte de um grupo
que talvez nunca tenha aceitado por completo a ideia de uma inclusão digital né. Eu acho que quando a gente começa a trabalhar com a idéia de cultura digital, não em oposição, mas a ideia de que não bastava incluir. Mas era preciso formar uma nova cultura que tava muito mais ligada ao up load né, a como você consegue entrar na rede como produtor do que como consumidor de conteúdos, informações, relações né “dados”, para a gente ficar agora no que é o grande tema do momento. Isso também tinha feito, por exemplo na época uma discussão sobre como ampliar por exemplo conteúdo em língua portuguesa né na internet considerando até uma parte desses conteúdos estavam sendo produzidos em outras línguas e que a língua portuguesa estava desaparecendo no cenário internacional.
Bom, então, eu acho que em alguma medida pensar para mim sempre foi difícil pensar dentro da caixa da inclusão digital e isso fazia com que a gente pudesse né a gente talvez aí em alguns momentos muitos inclusive perdeu possibilidade de diálogo entre engenheiros e científicos das ciências duras com o campo mesmo das Artes, da cultura eh e enfim talvez tudo fosse a mesma coisa mas a gente enxergava por prismas diferentes o que acontece muito costumeiramente né
Atualmente eu diria que nem o termo inclusão digital nem o termo cultura digital tem sido um tema com o qual a gente trabalha. A gente acabou por fazer um recorte dentro desse campo que é pensar nas tecnologias do comum de uma forma um pouco mais ampla e aí pensar também tecnopolíticas do comum né e é techno estéticos do comum. Eu sei que são termos que são como palavrões né pela sua talvez um pouco herméticos mas tem haver um pouco com um recorte que já não trata tanto de uma espécie de crença de que havia ou há né, a possibilidade de “basta incluí para que a coisa se desenvolva” né Não sei se eu já acreditei em algum momento.
A gente sempre trabalhou muito com processo né de criação sobre, de apropriação crítica, de outros conceitos que vinham de outras formas de entender o que quer o processo de aprendizagem propriamente dito né. Mas eu diria que é muito mais nesse sentido hoje que a gente vem trabalhando né Como que se a gente vai. Acho que nesse sentido a coisa
se mantém né porque acho que uma das coisas importantes quando a gente pensava né que usamos tecnologias né e nas comunidades, da relação que a gente fazia com isso lá atrás é, já se tratava, na verdade, de um processo de pensar inclusão de uma maneira crítica né. Que as pessoas não fossem simplesmente usuários. que as pessoas não fossem entre aspas “incluídas para reprodução” né mas que elas fossem sujeitas autônomas na relação do processo tecnológico inclusive podendo acessar os códigos, pensasse como desenvolvedoras né não só como produto, como usuários. E eu acho que nesse sentido o desafio permanece né continua sendo esse né Quem produz aquela frase: “programe ou seja programado” né quer dizer, ainda persiste esses sistemas estão eu acho que a gente é regrediu né inclusive do ponto de vista das políticas públicas que pretendiam garantir que nós tivéssemos uma abordagem pública. O investimento estatal em relação a esses temas desapareceram no cenário e é tudo virou basicamente estimular empreendedorismo e outras coisas que tem a ver muito mais com formas de mercado do que propriamente com formas cidadãs né
Não à toa a gente nos últimos tempos tem trabalhado com essa ideia de inovação cidadania né. O próprio termo inovação é complicado né porque inovação no fundo é um processo que ocorre dentro do mercado mas a gente optou por fazer essa disputa tentando né construir essa relação para tentar também capturar né sequestrar de quem não sequestrou. Sequestrar de volta né essa possibilidade de pensar as comunidades como sujeitas a produção tecnológica né como um potencial ator na produção de tecnologias né então acho que é sentido é o desafio de lá de trás não mudou tanto assim né em alguma medida ele permanece, ele persiste Talvez o nome tenha mudado talvez não faça muito sentido a gente falar em digital e inclusão digital mas eu acho que isso tudo tá um pouco associado a própria ideia de inovação cidadã quando passa por isso e pensar nessa dimensão é pensar essa ampliação da propriedade tecnologia né Tecnologia não só a como Black Box né como caixa-preta como dispositivos artefatos ligados ao mundo digital, mas também como vários tipos de processos criativos inclusive metodológicos que fazem com que as pessoas possam transformar né produzir uma diferença dentro de seus contextos e consequentemente melhorar a luz né
E aí o dia que em alguma medida a isso para ficar um recorte né, a gente pode olhar também para o fato de que eu tenho filhos adolescentes não percebam que é a inexistência de uma pedagogia né do computador né, do software. O aplicativo é uma versão muito reduzida do potencial do software né. O fato da gente não trabalhar mais com computadores com a mesma sequência né que tem no dia a dia como fazíamos antes né. A transposição disso tudo para o smartphone assim, eu fico às vezes, eu tenho vontade mesmo de voltar a ofertar né as formações para a moçada que tá chegando baseados em computadores e desktops com softwares né rodando Linux para a gente poder é porque para você program o aplicativo continuar sendo absolutamente necessário embora você possa fazer também para outros dispositivos mas me parece que ainda é o computador o elemento central e a isso eu acho que a perda da centralidade do computador é uma questão relevante eu diria que isso talvez fosse um dos pontos centrais é que a gente deveria retomar ou enfim tentar construir alguma coisa não na perspectiva passadista Mas de fato de projeção e numa direção futura assim né devolver a centralidade do computador e do software é porque para isso tudo vai vir né. Assim isso tudo é fundamental por exemplo você pensar tanto ponto de vista de algoritmos, de pensar Inteligência artificial então é o computador né que tá falando aí a IBM e a Google anunciando é a capacidade do Bits quântico é evoluções do computador né e o computador deixou de estar no centro das políticas ou das ações né dos projetos que são desenvolvidos hoje em dia então talvez uma coisa que possa ser interessante como pitaco é pensar um projeto de inclusão digital que tenha ou que faça do computador um elemento central, em diálogo com os outros vários né que os dispositivos Mas que não que não desconsidere a importância né Eu vejo as vezes quando meu filho tem fazer uma atividade e a dificuldade que ele tem, por exemplo, de compreender né que o arquivo não que tem um repositório físico né que existe o lugar onde tu tá né assim tá tudo na nuvem né E não, tá tudo nos servidores né e eu acho que tem muita coisa assim é Óbvio que a exclusão digital, a brecha digital permanece né a gente ainda tem uma grande parcela da população sem acesso a conhecimentos e a tecnologia estão não tais como desigual como nossos são questões que se colocam muito seriamente né E que seguem e persistem né Porque esse é o grande problema do Brasil nessa coisa extensa de cenários absolutamente díspares né Desde o mais avançado né o fato da gente ter por exemplo um acelerador de partículas em Campinas que é um dos mais importantes do planeta e continuar tendo favela de palafitas aqui a 10 km da minha casa né em Santos. Eu acho que são essas as minhas contribuições queria agradecer o convite de vocês me pus a pensar. Peço um pouco de desculpas, peço desculpas pelo atraso no envio e mas é porque realmente me coloquei fiquei pensando vários dias hoje resolvi gravar para não deixar de dar minha contribuição excelente projeto que vocês estão fazendo longa vida muita sorte tamo junto valeu