Sebástian Gerlic manda suas respostas ao projeto ID21. Sebastian é presidente da Thydêwá e conta sua história. Thydêwá significa ‘esperança da terra’ e dá nome à organização não-governamental sediada em Ilhéus/BA - que promove a cultura de paz como caminho para a transformação social, trabalhando com a diversidade cultural em diálogo entre indígenas e não-indígenas.
Transcrição Sebastián Gerlic
Thydêwá
Ola meu nome é Sebastian
estou presidindo uma instituição não-governamentais que se chama Thydêwá
A gente fundou a instituição em 2002 trabalhando principalmente com a diversidade cultural indigena, principalmente entre indígenas e não-indígenas. Então na nossa instituição temos sócios de diferentes etnias e sócios que não são indígenas entendendo todas essas diferenças como riquezas e sempre mantendo a ideia da alquimia e da partilha como nosso potencial tesouro. nossa diferença.
Em 2002 começamos a trabalhar com comunicação no intuito de libertar a expressão dos indígenas. A gente viu um “boom” grande em 2004 quando depois de nascer um livro que a gente tinha feito com sete comunidades diferentes decidimos conectar cada uma dessas sete comunidades diferente a rede de internet e também tendo um portal nosso com programa de ferramenta comum de comunicação e de relação dos participantes e o mundo. Então em 2004 a gente lançou um programa que se chama Índio On Line que em seu início tinha sete comunidades em Alagoas, Pernambuco e Bahia e depois nos anos seguintes começa a ampliar um pouquinho mais. Nessa região do Nordeste a gente colocou nosso verso, nosso trampolim e também atribuiu ações projetos de caráter Nacional sempre entendendo que a tecnologia era “um meio para”, uma ferramenta no caso trabalhando com os indígenas uma ferramenta que tinha que ser reapropriada com consciência, com crítica. E a gente fez formações para os indígenas se apropriarem das ferramentas de tecnologia, informação, comunicação e aprendizagem. E ação coletiva e ação grupal então primeiro principalmente trabalhamos no fortalecimento dessas culturas no resgate e valorização dos seu patrimônio, da cultura imaterial. mas logo logo os indígenas entenderam que a ferramenta tinha um potencial gigante em tudo o que era cidadania em tudo o que era reclamar as verbas, os orçamentos entender e participar das políticas públicas.
Nosso programa começou timidamente com apoio do governo da Bahia em 2004 pagando conexão via satélite para essas comunidades e depois deu um salto quando lançado o programa de cultura Viva do Ministério da Cultura na época de Gil a gente assina um contrato de ponto de cultura. E recebemos também por isso conexão via satélite desta vez do GESAC do governo da pasta de comunicações.
O Brasil vivia um lindo momento, um momento de crescimento humano no sentido que se começava a entender as tecnologias livres a promover se o diálogo horizontal, os trabalhos descentralizados, a valorizar o comum, o criativo o diverso e nesse espírito nosso programa foi crescendo. Digamos desde 2004/ 2005 até 2010 com certeza que ai acho que a gente chega ao seu ponto máximo de esplendor e depois começa a cair. Hoje está quase no chão, quase inexistente.
E tem aí vários fatores, até a conjuntura política. Deixou de ter incentivo a inclusão dos mais necessitados, a possibilidade dos excluídos terem sua participação e sua voz deixou de ser isso política pública. Não têm interesse dos diferentes governos. Então ficou muito, muito difícil de trabalhar. Se nos anos de ouro era difícil manter a tecnologia funcionando nas zonas rurais e nas comunidades indígenas, por problemas maiores com eletricidade, com cobertura de satélite, de banda, de manutenção de máquinas já tinha um problema de infra estrutura bem complexo. Mas aí quando acaba a motivação política e os programas de governo de apoio a coisa fica muito mais complicada. E isso também se sincroniza com essa tendência não dá importância ao comunitário, chega com muita força o Facebook e individualismo. De uma forma que não mais telecentros de encontros para os indígenas se nao, cada um que puder que se salve e tenha a sua conexão 3G no seu celular.
Então guardemos esses espaços comum, os telecentros onde os indígenas se encontravam para debater, para trabalhar juntos, para compartilhar uma cama de fotos, um projetor, um gravador, uma caixa de som para compartilhar principalmente a conexão e passamos ter um individualismo muito mais acirrado, radicalizado e sem nenhum tipo de apoio sensível das políticas. Então hoje continuamos a ter problemas de infraestrutura mas que parecem estar muito mais longe de qualquer resultado positivo. A exclusão no Brasil tem aumentado muito. Por exemplo, agora na pandemia quem tem que estudar precisa ter uma ferramenta de conexão à internet e não tem recursos para nenhuma coisa. Embora se fale em educação pública não há nem equipamentos públicos ou financiamento a baixo custo e muito melhor de conectividade. Ficou tudo nas mãos do mercado e o mercado que não se importa com as pessoas que mais precisam.
Então se os indígenas já estavam excluídos, passam agora a estarem muito muito mais excluídos. Se antigamente a conexão já era uma necessidade, um pré direito para acessar outros direitos, agora na pandemia há uma volta a um isolamento forçado porque o mundo continua para quem tem recursos “avançando”, circulando, se movendo no sistema. Para quem não tem como comprar a infraestrutura, para acessar a infraestrutura passa a estar isolado. E agora com a pandemia o isolamento ficou muito muito muito mais radical.
Isolamento à informação, isolamento aos canais de participação social.